Uma
narrativa que mergulha constantemente numa analepse, e que nos leva a conhecer,
em torno da personagem principal, dois momentos especialmente marcantes da sua
vida. Aqui, o passado surge como o caminho para as decisões que são necessárias
tomar no presente.
Vários
momentos poéticos que se articulam e completam a narrativa, numa mistura que
nos traz um excelente livro. Contudo, não é livro para ler de ânimo leve ou sem
atenção, visto que a autora salta constantemente e sem aviso entre os dois
momentos temporais.
Encontramos
excertos (como os transcritos abaixo), com um excelente jogo de palavras e de
sonoridades. Fazendo estes parte da ausência narrativa, ou seja, pertencendo a
uma parte do livro que não faz um avanço substancial no decorrer da ação,
simplesmente proporciona-nos o prazer de ler. A descrição de sentimentos
interiores que revelam, leva-nos a refletir muitas vezes em torno da nossa
própria vida, das nossas próprias ações e dos nossos próprios sentimentos.
“(…)
deu-lhe trabalho acrescido nas horas vagas presentemente preenchidas de
pensamentos vindos do passado, cozinhou-lhe enredos futuros e hipotéticos na
mente em banho-maria, limpou-lhe teias de aranhas presas a cantos de outras
eras, mas ferrou-lhe uma marca na alma que teimava em não desaparecer, brincado
com sentimentos outrora sentidos e agora docemente acordados.” (p. 41)
“Distância
curta de mais para nunca se terem cruzado, mas há coisas que não estão nas
nossas mãos decidir e o perto muitas vezes está longe” (p. 65)
“(…)
em tantos anos ligados às Letras, se cansou de ler os mesmos livros e poemas,
porque uma obra literária quando nos toca, agarra-se à nossa alma e passa a
fazer parte de nós. É como uma droga da qual se depende e pela qual clamamos
nos momentos de ressaca” (p. 84)
“Ela
ia esperar, mas ao mesmo tempo ia viver a sua vida, viver o que viesse para
viver, assim como fazem os habitantes vizinhos do Vesúvio.” (p. 117)
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