"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

The Hunger Games: em Chamas, de Suzanne Collins


Este é o segundo volume da trilogia “Jogos da Fome”, ou “Hunger Games”, no original. Já tendo falado do primeiro volume aqui, este apresenta a sequela de quem ousou desafiar o poder instituído. Foi lançado em 2009 nos Estados Unidos, com o título “Catching Fire”, e cerca de um ano depois em Portugal.


Contém um enredo relativamente melhor que o primeiro volume. Continua a ser narrado na primeira pessoa, pela protagonista. Assim, a narrativa evolui à medida que ela toma conhecimento das intrigas que a rodeiam, assim como dos seus planos e atitudes. A personagem, na continuação do primeiro livro, continua a ser bem desenvolvida. Sentimo-nos confusos quando ela se sente confusa. Sentimo-nos entrar num ritmo acelerado quando ela entra num ritmo acelerado. Também os demais personagens, sobretudo os outros dois vencedores do seu distrito, são melhor desenvolvidos e melhor apresentados.


Tem duas grandes reviravoltas, uma aproximadamente a meio e outra no fim. A primeira não é mais que um afunilamento de acontecimentos que acabou conduzir àquele fim. A segunda, apesar de inesperada, justifica os indícios e as pequenas confusões que se vão gerando ao longo da narrativa.


Quanto à adaptação cinematográfica, contrariamente à do primeiro volume, esta ficou mais aquém do real seguimento do livro. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Livro de Cesário Verde - nos 159 anos do seu nascimento


Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 1855. Morreu passados apenas 31 anos, e nunca publicou nenhum livro. Contudo, será um seu amigo, Silva Porto, que irá fazer uma coletânea das suas poesias, e publicar o seu livro em 1901.




E um autor dado na escola. Poemas como “Um Bairro Moderno”, “A Débil” ou “Cristalizações fazem parte dos manuais. Contudo, apenas ao ler o livro (edição completa, pois há muitos apenas com edições parciais) aparecem outros igualmente bons como “Flores Velhas” ou “Noite fechada”.  É um poeta do séc. XIX, sem dúvida, marcado pelo realismo. A sua linguagem é acessível, clara e cativadora. Para quem gosta de poesia, é um autor a não deixar de ler. 

FRÍGIDA 
Balzac é meu rival, minha senhora inglesa! 
Eu quero-a porque odeio as carnações redondas! 
Mas ele eternizou-lhe a singular beleza 
E eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas. 

II 
Admiro-a. A sua longa e plácida estatura 
Expõe a majestade austera dos invernos. 
Não cora no seu todo a tímida candura; 
Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos. 

III 
Eu vejo-a caminhar, fleumática, irritante, 
Numa das mãos franzindo um lençol de cambraia!... 
Ninguém me prende assim, fúnebre, extravagante, 
Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia! 

IV 
Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite, 
Mas nunca a fitarei duma maneira franca; 
Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite, 
É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca! 

Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso, 
Ó gélida mulher bizarramente estranha, 
E trêmulo depor os lábios no seu pulso, 
Entre a macia luva e o punho de bretanha!... 

VI 
Cintila ao seu rosto a lucidez das jóias. 
Ao encarar consigo a fantasia pasma; 
Pausadamente lembra o silvo das jibóias 
E a marcha demorada e muda dum fantasma. 

VII 
Metálica visão que Charles Baudelaire 
Sonhou e pressentiu nos seus delírios mornos, 
Permita que eu lhe adule a distinção que fere, 
As curvas da magreza e o lustre dos adornos! 

VIII 
Desliza como um astro, um astro que declina, 
Tão descansada e firme é que me desvaria, 
E tem a lentidão duma corveta fina 
Que nobremente vá num mar de calmaria. 

IX 
Não me imagine um doido. Eu vivo como um monge, 
No bosque das ficções, ó grande flor do Norte! 
E, ao persegui-la, penso acompanhar de longe 
O sossegado espectro angélico da Morte! 

O seu vagar oculta uma elasticidade 
Que deve dar um gosto amargo e deleitoso, 
E a sua glacial impassibilidade 
Exalta o meu desejo e irrita o meu nervoso. 

XI 
Porém, não arderei aos seus contactos frios, 
E não me enroscará nos serpentinos braços: 
Receio suportar febrões e calafrios; 
Adoro no seu corpo os movimentos lassos. 

XII 
E se uma vez me abrisse o colo transparente, 
E me osculasse, enfim, flexível e submissa, 
Eu julgara ouvir alguém, agudamente, 
Nas trevas, a cortar pedaços de cortiça! 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Segredo de Afonso III, de Maria Antonieta Costa


Este romance histórico tem tudo para ser um bom livro dentro do seu género. Contudo, não o é, apesar desta ser só a nossa opinião, que vale o que vale.

Tem um bom argumento, que gira em torno da corte de Afonso III, estando o monarca no seu leito de morte. Remete para um conjunto de intrigas palacianas, que envolvem o monarca, os seus mais próximos súbditos, uma moura sua barregã e até chega a ser referido Pedro Hispano, ou Papa João XXI, único português de facto que exerceu o cargo de Sumo Pontífice.

A obra revela profundos conhecimentos históricos, ou não fosse a autora uma historiadora. É narrada a dois tempos, no tempo de Afonso III, em que é contada a intriga pela barregã Moura que faz um frade do Convento de S. Vicente de Fora registar num pergaminho as suas preocupações. Ao mesmo tempo, no presente, esse mesmo pergaminho é descoberto no arquivo do Vaticano, por uma investigadora portuguesa.

Então o que falha? A escrita. É uma escrita escorreita, de fácil leitura, sem dúvida alguma. No entanto, é uma escrita pouquíssimo refinada para o estilo de obra que se trata. Apesar da forma de escrita ser o principal elemento da produção de um livro, outros elementos importantes, como a imaginação e originalidade, estão forte e distintamente presentes na obra. Temos de ter em consideração que é o primeiro romance da autora, e esperemos que a sua evolução lhe traga um apuramento da escrita. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Museu Nacional de Arte Antiga

Este é um livro diferente daqueles a que aqui se costuma fazer referência. Trata-se de um Guia do Museu Nacional de Arte Antiga, a instituição portuguesa que alberga algumas das maiores obras de arte do nosso país, como a Custódia de Belém ou os Painéis de S. Vicente de Fora.



É um Guia que permite uma visão geral sobre este museu, analisando com algum detalhe 15 obras que aí estão expostas, consideradas as principais do acervo, que vão desde a pintura, a azulejaria, ourivesaria ou objetos meramente decorativos e utilitários. Não será o livro mais indicado para quem procura conhecer mais aprofundadamente as coleções ou uma obra específica (a menos que seja uma das 15). Contudo, para quem quer um conhecimento mais geral, ou apenas um companheiro para a visita, que "chama a atenção" para as obras principais, é sem dúvida o livro ideal.



Com um formato diferente, quase um quadrado, assume-se como complemento à visita, nomeadamente pelas inúmeras fotografias dos objetos expostos, a cores. Estas fotos permitem ver, frequentemente, pormenores nas peças que não seriam tão facilmente visíveis a olho nu, tal como todos os pormenores dos apóstolos da Custódia de Belém. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quando o Cuco Chama, de Robert Galbraith

Este livro, lançado o ano passado em Inglaterra, é o primeiro que J. K. Rowling lança sob pseudónimo. A sua ideia seria a publicação permanecer assim durante algum tempo, contudo, veio ao público no verão passado quem era o verdadeiro autor.


É impossível não comparar a Harry Potter, e está bastante aquém da magia da saga que celebrizou a autora. Contudo, ao ser considerado um livro para adultos, e fazendo a comparação com o outro romance de adultos, “Uma Morte Súbita”, este será indubitavelmente melhor. Há uma maior centralização num mais restrito número de personagens, sendo estas melhor trabalhadas pela autora.

Aqui encontramos um militar mutilado que passou a ser detetive privado. Contrata uma assistente temporária, para os trabalhos administrativos, que contudo se revela um “Doutor Watson”. Tendo como pano de fundo um aparente suicídio, o detetive faz apenas uma coisa: questionar. E assim consegue chegar a conclusões sombrias, através de pequenos factos isolados, aparentemente sem ligação entre si. Aquela que parece ser louca e sedenta de atenção, que todos pensam que está a mentir, mas que mente apenas no que não pensam que ela mente. Mendigos que são verdadeiros amigos de ricos, um estilista nervoso, um filho adotado, um motorista de celebridades e um segurança de um prédio de gente rica enriquecem esta fantástica narrativa.

Os dois personagens principais (o detetive e a sua assistente) estão bem trabalhados. Chegamos aos seus desejos e anseios e à forma como se as suas vidas pessoais podem influenciar a sua relação profissional.

Mais uma vez, adotando uma atitude que acentuava a sua avantajada estatura e deixando que as suas feições assumissem, como aconteceria naturalmente, um ar carrancudo, tornou-se suficientemente intimidativo para repelir interpelações quando passou, de olhos baixos, pela portaria” (p. 133).

Este livro é, sem dúvida, uma boa “rampa de lançamento” para a autora na literatura para adultos. Esperemos que haja mais livros protagonizados por Robin Ellacott e Cormoran Strike.  

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Nos 490 anos do nascimento de Luís de Camões


Pus meus olhos numa funda, 
e fiz um tiro com ela
às grades de uma janela.

Uma dama, de malvada, 
tomou seus olhos na mão
e atirou-me uma pedrada 
com eles ao coração.
Armei minha funda então
e pus os olhos nela:
trape! quebro-lhe a janela. 

Poesia Lírica de Luís de Camões

Não há certeza quanto ao dia do nascimento de Luís de Camões. Contudo, crê-se que tenha sido em 1524. 
Imagem retirada daqui.
PiusPus meus olhos numa funda,
E fiz um tiro com ela
Às grades de uma janela.
 
Uma dama, de malvada,
Tomou seus olhos na mão
E tirou-me uma pedrada
Com eles no coração.
 
Armei minha funda então,
E pus os meus olhos nela;
Trape! Quebrei-lhe a janela.
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Pus meus olhos numa funda,
E fiz um tiro com ela
Às grades de uma janela.
 
Uma dama, de malvada,
Tomou seus olhos na mão
E tirou-me uma pedrada
Com eles no coração.
 
Armei minha funda então,
E pus os meus olhos nela;
Trape! Quebrei-lhe a janela.
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Pus meus olhos numa funda,
E fiz um tiro com ela
Às grades de uma janela.
 
Uma dama, de malvada,
Tomou seus olhos na mão
E tirou-me uma pedrada
Com eles no coração.
 
Armei minha funda então,
E pus os meus olhos nela;
Trape! Quebrei-lhe a janela.
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Pus meus olhos numa funda,
E fiz um tiro com ela
Às grades de uma janela.
 
Uma dama, de malvada,
Tomou seus olhos na mão
E tirou-me uma pedrada
Com eles no coração.
 
Armei minha funda então,
E pus os meus olhos nela;
Trape! Quebrei-lhe a janela.
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