Face
ao seu autor, poderia supor-se que este seria um livro de estratégia política,
de ideologia comunista ou até um relato das mais variadas tomadas de posição de
Fidel. Contudo, é algo tão simples como o texto expositivo-argumentativo que
Fidel Castro utilizou na barra do tribunal em sua própria defesa, aquando do
julgamento da insurreição que promoveu a 26 de julho de 1953, contra o regime
ditatorial cubano de Flugêncio Baptista, que acabaria por derrotar apenas em
1959.
O
discurso é altamente interventivo e desmonta o regime que então vigorava em
Cuba, e de como poucos abusavam de muito. Com efeito, através de Fidel, sabemos
que a marinha é o ramo das forças armadas que o regime que vigorava menos
dominava (e talvez um dos mais importantes para um país formado por ilhas), e
que durante a insurreição, houve enfermeiros a distribuir armas. Ainda sobre as
forças armadas, denuncia os abusos que eram cometidos pelos oficiais sobre os
soldados, obrigando-os a prestarem-lhes serviços pessoais, como motorista e
guarda-costas, afirmando inclusivamente que “O interesse de Batista não reside em tomar conta do Exército, mas em
que o Exército tome conta dele!” (p. 46). Contudo, nunca deixa de realçar
ao longo de todo o discurso a vontade e a força do povo cubano, utilizando até uma
expressão, em jeito de conclusão “é assim
que o povo luta quando quer conquistar a sua liberdade; atiram pedras aos
aviões e voltam tanques com as mãos”. (p. 49).
No
quarto capítulo Fidel refere quem os apoiou e como pretende implementar e
executar as suas ideias, através de cinco leis revolucionárias. Ao lermos esta
parte, a qualquer português poderá dar uma quase sensação de “dejá-vu”, visto
que os problemas que aquela Cuba atravessava à época são os nossos atuais, no
nosso Portugal, nomeadamente problemas sociais, industriais e de educação.
No
quinto capítulo, são relatadas as atrocidades cometidas pela defesa do regime
aos revolucionários, com uma exaustiva descrição dos assassinatos, mutilações e
torturas a que foram submetidos alguns elementos. No sétimo capítulo, Fidel
desmonta o irrisório da constituição de Cuba: o presidente é nomeado pelo
conselho de ministros e o conselho de ministros é nomeado pelo presidente.
Este
é sem dúvida um documento que revela sobretudo coragem de enfrentar o regime
vigente, seja de que forma. Fidel nunca hesita em chamar “os bois pelos nomes”,
sobretudo no que toca a Fulgêncio Batista, dizendo já nas suas alegações finais
que “É compreensível que os homens
honestos sejam mortos ou presos numa República em que o Presidente é um
criminoso e um ladrão.” (p. 125-126).
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