"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

terça-feira, 22 de abril de 2014

A História me Absolverá, de Fidel Castro


Face ao seu autor, poderia supor-se que este seria um livro de estratégia política, de ideologia comunista ou até um relato das mais variadas tomadas de posição de Fidel. Contudo, é algo tão simples como o texto expositivo-argumentativo que Fidel Castro utilizou na barra do tribunal em sua própria defesa, aquando do julgamento da insurreição que promoveu a 26 de julho de 1953, contra o regime ditatorial cubano de Flugêncio Baptista, que acabaria por derrotar apenas em 1959.

O discurso é altamente interventivo e desmonta o regime que então vigorava em Cuba, e de como poucos abusavam de muito. Com efeito, através de Fidel, sabemos que a marinha é o ramo das forças armadas que o regime que vigorava menos dominava (e talvez um dos mais importantes para um país formado por ilhas), e que durante a insurreição, houve enfermeiros a distribuir armas. Ainda sobre as forças armadas, denuncia os abusos que eram cometidos pelos oficiais sobre os soldados, obrigando-os a prestarem-lhes serviços pessoais, como motorista e guarda-costas, afirmando inclusivamente que “O interesse de Batista não reside em tomar conta do Exército, mas em que o Exército tome conta dele!” (p. 46). Contudo, nunca deixa de realçar ao longo de todo o discurso a vontade e a força do povo cubano, utilizando até uma expressão, em jeito de conclusão “é assim que o povo luta quando quer conquistar a sua liberdade; atiram pedras aos aviões e voltam tanques com as mãos”. (p. 49).

No quarto capítulo Fidel refere quem os apoiou e como pretende implementar e executar as suas ideias, através de cinco leis revolucionárias. Ao lermos esta parte, a qualquer português poderá dar uma quase sensação de “dejá-vu”, visto que os problemas que aquela Cuba atravessava à época são os nossos atuais, no nosso Portugal, nomeadamente problemas sociais, industriais e de educação.

No quinto capítulo, são relatadas as atrocidades cometidas pela defesa do regime aos revolucionários, com uma exaustiva descrição dos assassinatos, mutilações e torturas a que foram submetidos alguns elementos. No sétimo capítulo, Fidel desmonta o irrisório da constituição de Cuba: o presidente é nomeado pelo conselho de ministros e o conselho de ministros é nomeado pelo presidente.

Este é sem dúvida um documento que revela sobretudo coragem de enfrentar o regime vigente, seja de que forma. Fidel nunca hesita em chamar “os bois pelos nomes”, sobretudo no que toca a Fulgêncio Batista, dizendo já nas suas alegações finais que “É compreensível que os homens honestos sejam mortos ou presos numa República em que o Presidente é um criminoso e um ladrão.” (p. 125-126). 

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