"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

quinta-feira, 24 de abril de 2014

País de Abril, de Manuel Alegre


Trata-se de uma antologia de poemas escritos por Manuel Alegre, alguns antes da revolução, outros no ímpeto revolucionário ou até em comemorações de aniversários da revolução de abril, mas já todos eles publicados anteriormente. Os dois primeiros blocos foram inclusivamente censurados ainda durante o tempo do Estado Novo.

São poemas na sua grande maioria curtos, e que nos trazem o país oprimido pela ausência de liberdade de expressão e os ventos da guerra (como a famosíssima “Trova do Vento que Passa”). De todos, talvez nos mereça especial destaque, neste ano que se comemoram os 40 anos desta revolução, o último poema da obra, publicado em 1992 no Jornal de Letras, e dedicado a Salgueiro Maia, que reproduzimos abaixo.

Ficaste na pureza inicial
Do gesto que liberta e se desprende.
Havia em ti o símbolo e o sinal
Havia em ti o herói que não se rende.

Outros jogaram o jogo viciado
Para ti nem poder nem sua regra.
Conquistador do sonho incosquistado
Havia em ti o herói que não se integra.

Por isso ficarás como quem vem
Dar outro rosto ao rosto da cidade.
Diz-se o teu nome e sais de Santarém

Trazendo a espada e a flor da liberdade.

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