“Bichos”
é uma antologia de 14 contos da autoria de Adolfo Correia Rocha, que utilizou o
pseudónimo literário de Miguel Torga. Lançado pela primeira vez em 1940, esta é
uma obra que conta com inúmeras reedições. Encontramos aqui bichos que pensam e
bichos que interagem com o bicho homem. Um cão de caça, um gato, uma mulher em
trabalho de parto, um burro, um sapo, um galo, um pintassilgo, uma cigarra, um
pardal, um pastor, um melro, um touro, um colecionador de insetos e um corvo: são
estes os bichos!
A
morte e um tema que atravessa toda a obra, nas suas mais variadas formas: o
assassínio, a morte por divertimento, a morte por crueldade, a morte por
piedade, a morte por abandono, o nado-morto. Torga presenteia-nos com um
cenário serrano ao longo destes contos, pontuado com excelentes passagens, que
nos fazem refletir, algumas, e outras com uma certa dimensão
humorístico-irónica.
“A gente também vive de boas palavras”
(p. 49)
“- Há-de ficar para
galo!
E a
sujeita tinha palavra. Em Maio, por alturas da Ascensão, ao dar de caras com os
irmãos degolados e depenados, ainda lhe tremeu a passarinha. Olha que
brincadeira! Felizmente que a dona sabia distinguir o trigo do joio, e o
deixava para semente... “
(p. 70)
“A sua alma era muda como um túmulo” (p.
103)
“ A significação da vida ligara-se
indissoluvelmente ao acto de insubordinação. (…) Que nada podia contra àquela
vontade inabalável de ser livre” (p. 134)
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