"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Obras de Eugénio de Andrade, volume 1


Editado pela Assírio e Alvim, este volume reúne as três primeiras obras poéticas de Eugénio de Andrade. “Primeiros Poemas” trata-se de uma seleção de dez poemas do autor das suas duas primeiras obras, “Adolescente” (1942) e “Pureza” (1945). São poemas curtos, que variam entre uma e três estrofes, e os maiores têm apenas onze versos. São poemas simples, pontuados por ligações à agua (fonte, ribeiro), à noite, à natureza. Destes destacamos:

PAISAGEM
Entre pinheiros
três casas.
Uma azenha parada.
Uma torre erguida
de fraga em fraga
contra o céu de cal.
E um silêncio talhado
para o voo de um moscardo
alastra de casa em casa,
sobe à torre abandonada
e sobe a azenha parada
tomba desamparado.

“As mãos e os frutos”, pulbicado pela primeira vez em 1948, é uma obra com 35 poemas numerados, a maioria dos quais sem título. Ao nível da forma vai do dístico a estrofes com mais de uma dezena de versos. Estes poemas são pontuados igualmente por elementos naturalistas, por uma leveza, na sua grande maioria. Os frutos são constantes (ou não dosse esse o seu título… vão das espigas, vinhas, cerejas e romãs. Vimos igualmente um certo jogo de sonoridades, que dá uma musicalidade à poesia (“e ficaria surdo e cego e mudo”; “a tua vinha sem vinho”).


Por fim, “Os Amantes sem Dinheiro”, lançado em 1950, trata-se de cerca de vinte poemas, todos titulados. Transversalmente, podemos considera-lo como sendo pontuado por três grandes temas: a liberdade (personificada numa gaivota), a mãe e o amor. É inclusivamente o último poema, “Adeus”, que nos traz o que fica do fim de uma relação. 

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