"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

domingo, 24 de maio de 2015

“Guerra dos Tronos” e “A Muralha de Gelo”, de George R. R. Martin



Estes dois livros são apenas um na versão original, com o título Game of Thrones, publicado pela primeira em 1996, nos Estados Unidos. É o primeiro livro de uma saga de fantasia, que tem como palco principal os Sete Reinos e as lutas que aqui se começam a desenhar pelo poder dos vários intervenientes.


É uma narrativa muito bem escrita que, que nos transporta para o meio das ações, nas suas várias frentes. Impossível ficar indiferente, e à medida que se vai lendo, vai-se tendo vontade de ler sempre e cada vez mais e mais. Devido à enorme complexidade de personagens existentes, os livros são auxiliados por genealogias das principais famílias abordadas, assim como mapas dos Sete Reinos, para percebermos a “geografia” da narrativa. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dois Hotéis em Lisboa, de David Leavitt


Publicado em Portugal em junho de 2014, o original foi dado à estampa no ano anterior nos Estados Unidos sob o título “The Two Hotels Francforts”. Este é um romance histórico, que nos transporta à Lisboa do tempo da segunda guerra mundial. Quando existiam muitos refugiados dos países onde a guerra grassava e que pretendiam ir para a América.


Dois casais vão encontrar-se e travar conhecimento. Com casamentos podres, cada um à sua maneira, irá acontecer o impensável. Um desenvolvimento notável longe dos grandes clichés que norteiam este género de romances, com um desenrolar completamente impensável à “literatura de bem” e um final ainda mais inacreditável.

sábado, 25 de abril de 2015

25 de Abril





Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'

domingo, 29 de março de 2015

O Cristo Cigano, de Sophia de Mello Breyner Andersen


Publicado pela primeira vez em 1961 com o nome “O Cristo Cigano ou a Lenda do Cristo Cachorro”, vai atualmente apenas na 5.ª edição, uma vez que a poeta, durante muitos anos, achou esta uma obra menor da sua produção, e a foi negligenciando.

É um livro poema que se lê de um trago. Ou por outra, saboreia-se de um trago. Porque poesia e a poesia de Sophia não se leem – saboreiam-se. Talvez seja a mais pequena obra da poeta – apenas onze poemas, cujo maior tem 14 estrofes, e a sua grande maioria terá quatro ou cinco.

Uma obra pequena ao mesmo tempo que é uma grande obra que não se consegue descrever ou opinar. Quem a quiser conhecer, terá de a ler, num dia em que se sinta com um espírito aberto à manifestação do eu poético que emana desta obra.

VII
TREVAS
O que foi antigamente manhã limpa
Sereno amor das coisas e da vida
É hoje busca desesperada busca
De um corpo cuja face me é oculta.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Luís Miguel Rocha - 1976-2015


Um dos maiores talentos portugueses da atualidade. 

"O autor Luís Miguel Rocha era vítima de doença prolongada e encontrava-se em casa de familiares em Mazarefes, distrito de Viana do Castelo. Segundo um familiar próximo relatou à agência Lusa, o escritor esteve internado no hospital de Viana do Castelo, vindo a falecer hoje, dia 26 de março, em casa. " (fonte). 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Os Crimes do ABC & O Enigma do Sapato, de Agatha Christie



Estes dois romances de Agatha Christie, protagonizados pelo detive Belga Hercule Poirot, foram publicados pela primeira em 1936 e 1940 respetivamente. 

Apesar de serem obras diferentes com panos de fundo diferentes, ambas contam com uma série de homicídios e com uma grande reviravolta no final. O grande senão de ambas é precisamente esse: a reviravolta final é pouco preparada ao longo do livro, parecendo rebuscada em excesso. Ou talvez não. Na verdade, depois de sabermos como tudo termina, e relembrarmos a narrativa em si, percebemos que os indícios estavam lá, mas simplesmente passaram-nos ao lado. Porque talvez sejamos demasiado objetivos, como a Scotland Yard o foi, e não atentássemos devidamente aos pormenores, como Poirot atenta.

Dois interessantes livros de Agatha Christie, longe de um top, mas ainda assim uma leitura bastante interessante. 

domingo, 18 de janeiro de 2015

Os Pilares da Terra, de Ken Follet


Depois da “Crónica de Santo Adriano”, de João Aguiar, não poderíamos ter mergulhado melhor numa outra obra. Tão boa quando a anterior, mas totalmente diferente dela. Os Pilares da Terra foram publicados pela primeira vez em 1989 em Inglaterra, de onde o seu autor é natural. Em Portugal, a tradução foi lançada apenas em 2007, dividida em dois volumes que totalizam cerca de 1100 páginas.

É aquele livro que agarramos e não conseguimos largar até chegar ao fim. Tom Pedreiro, Ellen, Alfred, Prior Philip, Jonathan, Aliena, Waleran Bigod, William Hamleigh e tantos outros que nos prendem e nos fazem acompanhar as suas vidas. Com efeito, visto que a narrativa decorre ao longo de uma parte considerável do séc. XI, acompanhamos algumas das personagens desde o seu nascimento até a uma idade considerável. Assistimos igualmente a nascimentos e mortes. A invasões e a guerras. Mas o grande pano de fundo deste romance histórico é mesmo a construção de uma catedral. É torno dela que tudo gira. Por ter uma ação narrativa tão alargada no tempo, permite não só uma maior construção das personagens, como também conhecermos a sua própria evolução ao longo da vida.


Uma obra bem construída que jamais se conseguirá resumir sem perder o seu próprio brilho. Se é muito boa, o final é apenas bom. Com efeito, apesar de tudo convergir para o final em causa (ou para os “finais” das várias personagens), este escorre muito rapidamente, sem o brilho da restante narrativa. Contudo, não deixa de ser um dos mais fantásticos romances históricos que já lemos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Trilogia “Crónica de Santo Adriano”, de João Aguiar


“Crónica de Santo Adriano” foi o nome que João Aguiar deu a um conjunto de três livros seus, sequenciais cronologicamente falando, apenas no seu foro íntimo, segundo palavras do próprio. São eles “Os comedores de Pérolas” (1992), “O Dragão de Fumo” (1998) e “Catedral Verde” (2000). Tem como protagonista Adriano Carreira, jornalista e escritor, marcado pela vivência com a cultura macaense e pela sua ligação a Portugal. Este é um dos panos de fundo das obras: os momentos pré-passagem de Macau, o Dragão de Fumo, ao domínio chinês.

Se os dois primeiros livros se passam em Macau, entre aventuras e desventuras de Adriano Carreira e da sua filha, o terceiro passa-se em Portugal, e “corre” no momento em que é feita a transferência do território para a China. A obra é pontuada por uma enormidade de pormenores que revelam um verdadeiro conhecimento por parte do autor da cultura e da vivência macaense. Enquanto que os dois primeiros livros são obras de ação, isto é, existe uma intriga, quase que policial, que envolve toda a narrativa, “Catedral Verde” é essencialmente uma busca pela própria descoberta do protagonista. Com efeito, “mergulhamos” dentro deste, de uma forma bastante singular, acentuada pelo facto deste último volume ser narrado na primeira pessoa.


É uma obra que se pretende devorar. À medida que se vai lendo, quer saber-se sempre mais e ir mais além. Sem dúvida uma das melhores leituras dos últimos tempos.